O menino maranhense E.A.C.C., de 2 anos, que tem ao menos cinco agulhas no corpo, foi trazido ontem de São Vicente Férrer (a 275 km de São Luís, na Baixada Maranhense) para a capital, a fim de ser submetido a exames no Centro de Perícia Médica da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). De acordo com a médica legista Milene Guedêlha Fortaleza Gonçalves, duas perícias – uma indireta, baseada nos relatórios médicos, e outra direta, resultante de exames na própria criança – irão servir para a emissão, em dez dias, de um laudo médico legal, que vai ser juntado ao inquérito policial que apura como as agulhas foram parar no corpo do garoto.
E.A.C.C. e sua mãe, Tamires de Araújo, 20 anos, foram trazidos do povoado Limão, em São Vicente Férrer, onde vivem, pelo delegado Armando Pacheco Gomes, de São João Batista, que está à frente do caso. Segundo o delegado, já foram ouvidas até agora perto de 10 pessoas – entre elas a vereadora e mãe-de-santo Josefa Silva Pinto (PDT), a “Dôca”, 64 anos. Conforme depoimentos, Josefa teria simulado a retirada das agulhas com a boca. Ela nega qualquer envolvimento no caso.
Para a polícia, o pai da criança, Francisco Balbino Coelho Campos, 23 anos, que chegou a ser preso temporariamente por 10 dias, ainda é o principal suspeito de ter introduzido as agulhas no corpo do filho, como parte de um ritual de magia negra. Ele nega, mas de acordo com o delegado Armando Pacheco, “há várias contradições nos depoimentos do pai, sem contar que a criança demonstra muito medo dele; só de ouvir seu nome, o garoto já começa a chorar”.
Estrangulamento e bilhete – O prazo de 30 dias para a conclusão do inquérito termina do próximo dia 21, mas o delegado Pacheco já informou que esse período pode ser prorrogado. “Precisamos de mais tempo para investigar porque há muita dificuldade em se obter informações. O mundo da magia negra é muito fechado”, disse o delegado. Ele investiga também uma suposta tentativa de estrangulamento do garoto, que teria ocorrido alguns meses antes de serem constatadas, num raio-X, as agulhas em seu corpo.
O menino e a mãe foram trazidos de São Vicente Férrer pelo delegado Armando Pacheco (ao fundo)(Foto:Oswaldo Viviani)
A polícia também descobriu, na casa de Tamires de Araújo, 20 anos, mãe da criança, um bilhete com orações e cânticos usados em rituais de magia negra, com ameaças a eventuais inimigos dos praticantes. Tamires disse à polícia que não sabe nada sobre a autoria do bilhete, mas o delegado Pacheco já tem um suspeito, cujo nome não quis revelar para não atrapalhar as investigações. Uma amostra da grafia do suspeito foi recolhida pela polícia e passará por exame grafotécnico no Instituto de Criminalística (Icrim).Agulhas de costurar rede - As agulhas – de tamanho grande, para costurar rede – foram descobertas no corpo do garoto E.A.C.C. em agosto do ano passado, quando a criança foi trazida pela mãe de São Vicente Férrer ao Hospital Djalma Marques (Socorrão 1), em São Luís, depois de sofrer, em casa, segundo Tamires, uma queda da rede.
Um exame de raio-X detectou cinco fraturas, nas costelas e na clavícula do menino, e sete agulhas, além de fragmentos de outras, localizadas na região do abdômen. Em 27 de agosto, o garoto deu entrada na Unidade Materno Infantil do Hospital Universitário (HU), também em São Luís, onde passou por uma cirurgia que retirou duas agulhas - entre elas uma que havia perfurado o fígado - e pedaços de outras duas.
Os médicos optaram por deixar as outras cinco agulhas no corpo do menino porque as remoções trariam riscos à criança, que hoje está fora de perigo.
Conforme a polícia, a mãe da criança, Tamires de Araújo, pode responder por negligência e lesão corporal culposa, por só levar o menino ao hospital oito dias após a queda da rede.
Por determinação da Justiça, E.A.C.C. atualmente está sob os cuidados da avó paterna, Maria Balbino – que também mora no povoado Limão.
Mulher também diz estar com agulhas no corpo
Além do garoto E.A.C.C., surgiu em São Vicente Férrer outro caso de pessoa que diz ter agulhas no corpo. Trata-se da lavradora Vanilda Costa, de 23 anos. O delegado Armando Pacheco contou ao JP que ela procurou espontaneamente, na quarta-feira, a delegacia da cidade. Contou que há dois anos, depois de ter passado por uma cesariana, começou a sentir fortes dores. Num raio-X, teria descoberto que estava com 23 agulhas de injeção na região do abdômen. A mulher declarou à polícia que já passou por cinco cirurgias para a retirada de 18 agulhas, mas que ainda restam cinco.
O delegado Armando Pacheco recebeu com reservas a história de Vanilda. “Ela ainda não apresentou nenhuma prova significativa, nem o raio-X”, disse Pacheco ao JP. (OV)
fonte: Jornal Pequeno
0 comentários:
Postar um comentário
Para fazer comentário use sua Contas do Google como a do gmail, orkut entre outros. Qualquer comentário aqui postado é de inteira responsabilidade do seu autor.Comentários com palavras ofensivas e xingamentos serão excluídos.É livre a manifestação do contraditório desde citado o titular. De já agradeço.