Jackson
Por
Edson Vidigal
Só
há tempo para o viver. Entre o nascer e o morrer só o tempo para o viver.
Nascer é chegar ao mundo, abrir-se para a vida e seguir o destino pela estrada
que, um dia, terá fim. Ou nunca terá fim.
Para
muitos, a estrada tem fim. A viagem acaba com a chegada da morte. Nascer não é
inevitável. Morrer para muitos é inevitável. Há aqueles para quem a estrada
nunca acaba porque apesar da morte, prosseguem.
Prosseguem
no exemplo, nos ideais de luta, não a luta pelo mal aos outros, mas a luta
buscando o bem dos outros.
O
Jackson se inscreve agora entre aqueles para quem a estrada da vida não acabou.
Aqueles que sobrevivem à própria morte.
O
Jackson médico, trabalhou seu oficio curando doentes, ajudando a salvar vidas,
espantando as lamurias que a morte leva às casas dos enfermos.
O
Jackson professor soube inspirar seguidores, disseminando o que aprendeu em técnicas,
erudição, experiência e conhecimentos.
O
Jackson político, que administrou a Capital por três vezes, sempre bem
avaliado, era querido pela população porque fazia da política não a arte do
possível como muitos ainda entre nós a praticam no mal sentido, achando que
esse possível se encerra na possibilidade das coisas sempre para eles, a favor
deles, do patrimônio político e também do patrimônio pessoal deles.
O
Jackson político fincava sua ação em princípios rígidos, dos quais ninguém o
arredava. Não concebia a vida política fora dos parâmetros republicanos e
democráticos.
Homem
público, no exemplo que o Jackson buscava intensamente transmitir, não podia
ter outros compromissos que não os fossem, primeiramente, com o coletivo. Era
assim, beirando muitas vezes a um remansoso romantismo, o seu jeito de
gerenciar a coisa publica.
Antes
da morte física de agora ha pouco, o Jackson já havia sofrido uma tentativa de
morte política quando lhe arrebataram covardemente, ainda no primeiro biênio, o
mandato de Governador eleito pela maioria do Povo do Maranhão.
Depois,
nas eleições seguintes, ele novamente concorrendo para se submeter a um novo
julgamento, querendo tirar a prova dos nove, foi vitima de novo atentado com a
bazófia da inelegibilidade que lhe inventaram e que a morosidade judicial
ajudou a prosperar.
O
Jackson não era inelegível coisa nenhuma. Eu me esguelava garantindo isso nos comícios,
na campanha inteira, ao lado dele.
Quando
a Justiça eleitoral, em sua fama de que tarda, mas não falha, mas falhando
porque tardia, disse que não havia mesmo inelegibilidade nenhuma contra o
Jackson, a tendência forte que antes lhe era favorável já se contaminara pela
mentira espalhada pela má fé e, assim, perdia apoios.
Assim,
derrotado, covardemente derrotado, logo no primeiro turno, o Jackson gladiador
da resistência republicana e democrática no Maranhão foi a nocaute.
O
que lhe causou, enfim, a morte física não foi o câncer que já acompanhava e com
o qual convivia em alguma harmonia há algum tempo. Nem a pneumonia que se
aproveitando da sua baixa resistência decorrente da quimioterapia.
O
que o abateu mesmo foi a depressão profunda em que mergulhou decepcionado com
os falsos e envergonhado por ter dedicado todo o tempo em que passou
palmilhando a estrada na luta pelos outros e vendo a vitoria definitiva quase
chegando ter acreditado em uns tantos em quem não valeu a pena confiar.
Como
naquele verso de Fernando Pessoa, estou hoje
perplexo como quem pensou, achou e esqueceu...
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