Iniciativa de Leymah Gbowee ajudou a encerrar a guerra civil no país.
Mulheres se negaram a fazer sexo com os maridos até o fim dos combates.
Uma das três laureadas com o Prêmio Nobel da Paz nesta sexta-feira (7), foi a fundadora de um movimento pacífico que ajudou a terminar a segunda guerra civil do país africano, em 2003.
Durante a premiação, o Comitê Nobel afirmou que sua militância ajudou Ellen Johnson Sirleaf, outra das três laureadas desta sexta-feira, a chegar à presidência do país, democraticamente, em 2006.
A ação de Leymah ficou marcada por conta de uma "greve de sexo" que liderou.
Lançada em 2002, essa iniciativa original levou as liberianas de todas as confissões religiosas a negar sexo aos homens até que cessassem os combates, o que obrigou Charles Taylor, ex-chefe de guerra convertido em presidente, a associá-las às negociações de paz.
A ativista liberiana Leymah Gbowee em 18 de maio de 2009 (Foto: AP)
"Leymah Gbowee mobilizou e organizou as mulheres além das linhas de
divisão étnica e religiosa para pôr fim a uma longa guerra na Libéria e
garantir a participação das mulheres nas eleições", disse Thorbjoern
Jagland, presidente do comitê do Nobel.'Red'
Quando era pequena, ela era chamada de Red (vermelha), por sua pele clara, relatou a liberiana no livro autobiográfico "Mighty Be Our Powers: How Sisterhood, Prayer, and Sex Changed a Nation at War" ("Poderosos sejam nossos poderes: como a comunidade de mulheres, a oração e o sexo mudaram uma nação em guerra").
Contra os demônios da guerra, Leymah Roberta Gbowee chamou as mulheres a orar pela paz, sem distinção de religião e frequentemente vestidas de branco.
O movimento foi crescendo durante o conflito, até culminar na greve de sexo, obrigando o regime de Charles Taylor a integrá-las às negociações de paz.
Leymah Gbowee "é mais que valente. Desafiou a 'tempestade' Charles Taylor e o obrigou a se voltar à paz quando a maioria de nós, os homens, fugimos para salvar nossas vidas", disse Nathan Jacobs, funcionário de 45 anos.
Em dezembro de 1989, depois de iniciar uma rebelião contra o presidente liberiano Samuel Doe, Charles Taylor se apoderou em poucos meses da quase totalidade do país e tornou-se presidente em 1997.
Enfrentando uma revolta armada, ele se viu obrigado a deixar o poder em 2003, sob a pressão da rebelião e da comunidade internacional.
A
iemenita Tawakkul Karman e as liberianas Ellen Johnson Sirleaf e Leymah
Gbowee, laureadas com o Nobel da Paz de 2011 nesta sexta-feira (7)
(Foto: Reuters)
Durante a guerra e como assistente social, Leymah conviveu diariamente
com as crianças soldados e percebeu que "a única maneira de mudar as
coisas, do mal para o bem, era que nós, mulheres e mães dessas crianças,
nos levantássemos e avançássemos pelo bom caminho", disse ela, hoje mãe
de seis filhos, instalada desde 2005 em Gana."Nada deveria levar as pessoas a fazer o que fizeram com as crianças da Libéria", drogadas, armadas, convertidas em máquinas de morte, explicou em um documentário - "Pray the Devil back to Hell" (Reze para o Diabo voltar ao inferno) - sobre a luta das liberianas pela paz.
Essa luta "não é uma história de guerra tradicional. Trata-se de um exército de mulheres vestidas de branco, que se ergueram quando ninguém queria fazê-lo, sem medo, porque as piores coisas imagináveis já haviam ocorrido conosco", escreveu em sua autobiografia.
"Trata-se da maneira como encontramos a força moral, a perseverança e a valentia para levantar nossa voz contra a guerra, e reestabelecer o sentido comum em nosso país", disse.
Leymah, que fundou e dirige várias organizações de mulheres, participou da Comissão Verdade e Reconciliação. Um percurso inesperado para quem reconhece ter sido uma criança doente - rubéola, malária, cólera - que "frequentemente desejou estar saudável".
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