O último Natal


Por *Julio Ribeiro

O último Natal

A prostituta tinha uma pele alva de princesa. O homem aspirou um pouco mais de fumaça e olhou para a janela. Olhou para os prédios próximos do local e viu as luzinhas frenéticas oscilarem numa frequência que seus dois olhos não podiam acompanhar. Estava introspectivo, com  as visões vermelhas, irritadas por algo.
Laura acreditava que era a fumaça do cigarro que estava fazendo com que seus olhos ficassem daquela maneira, mas então lembrou que ele já chegara ao quarto com aqueles olhos. Ela estava vestida, usava um moletom cinza, e uma jaqueta sobre os braços, por que estavam no último andar, e um vento frio entrava pela janela, que ele insistia em deixar aberta.
- São 100 reais – ela falou numa voz trêmula, estava assustada.
O homem se virou para ela e riu:
- Você vai fazer o quê? Essa noite? – ele perguntou jogando o cigarro pela janela.
- Dormir – falou assustada, cada vez mais apertando os braços contra o próprio corpo.
- E sua família? Você não tem? – perguntou sem olhar para a cama, enquanto observava seu cigarro cai em algum lugar da calçada.
- Não. Meu filho vai ceiar com os avôs.
O homem virou a cabeça surpreso.
- Você tem um filho? – a olhou dos pés até o rosto. Ela era linda. Não era como as outras garotas que ele contratara, tinha um cabelo loiro e um ar de universitária, tinha certeza que ela fazia faculdade.
- Tenho – levantou da cama -, são 100 reais.
- E por que não passa a ceia com eles? Ainda dá tempo. Agora que são 7 horas. – Olhou para o céu nublado pela janela em busca de uma sequer estrela, mas não encontrou.
- Não, foi 100 reais, senhor – falou estendendo a mão tentando evitar que o frio e o medo a fizessem tremer.
O homem ficou a encarando com um sorriso por alguns segundos.
- Eu não tenho ninguém pra passar o natal, e eu não quero ficar sozinho esse ano...
- Por favor, senhor, eu só quero ir embora – botou o cabelo que caía no rosto atrás da orelha.
- Eu pago o dobro, só quero que fique comigo aqui, é só um presente de natal, será que pode me dar? – ele falou segurando o pulso de Laura apertado.
Naquele instante Laura conseguiu ler os olhos do senhor. Ele tinha aparentemente 40 anos, era magro, pálido, e pelos traços finos devia ser rico. Não tinha intenção alguma de fazer mal a ela. Ela não estava mais com medo.
- Não, senhor, eu só quero ir pra casa – disse puxando o pulso com força das mãos finas do homem.
Ele abriu a carteira com um rosto inexpressivo e tirou uma nota brilhante de 100 reais do meio das outras. Laura agarrou a nota depressa, e apanhou a bolsa, calçou os sapatos caros, e caminhou depressa rumo à porta.
- O que quer de natal? Eu posso te dar o que você quiser. – o homem falou para Laura com um sorriso no canto da boca, tinha um olhar fraternal apesar dos serviços prestados há alguns minutos atrás.
Laura já com todo o corpo do lado de fora da suíte, o olhou sorrindo pela brecha da porta que ainda deixara.
- O que eu quero... O senhor não pode me dar – fechou a porta e saiu rígida caminhando por aquele corredor brilhante.
Laura chegou ao elevador, esperou alguns minutos, e entrou, mexeu no celular, não tinha nenhuma mensagem, então ligou os fones de ouvido e entupiu a cabeça com seu rock inglês refinado. Sentiu-se triste por um segundo, então tratou de cantarolar a música. Quando saiu do elevador caminhou devagar até o portão de saída, reparando atenciosa a decoração interna do prédio. Puxou um pouco a saia por causa do frio, e abriu o portão de vidro.
Tinha pessoas gritando do lado de fora, um bolo delas reunidas numa das calçadas, carros paravam, e ela logo supôs que um acidente tinha matado alguém justo na noite de natal. Correu até o tumulto, empurrando as pessoas até chegar no oco do centro.
Então tirou os fones de ouvido e sentiu o corpo inteiro tremer.
Ela vira aquele cara há alguns instantes atrás. E ele fora muito gentil e ofereceu qualquer presente que ela quisesse, mas ela recusou, por que achou que sua solidão era impossível de acabar, e certamente a dele também...



*Nome:Julio Ribeiro
 Idade: 17 anos (09/03/1994)
 Filho de São Mateus, aluno do ultimo ano do ensino médio no Colégio Militar   Tiradentes, em Bacabal, pretende fazer engenharia mecânica em São Luis, escreve desde os 13.


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