Nei
Alberto Pies
“Os anos deixam rugas na pele, mas a falta de
entusiasmo
deixa rugas na alma” (Michael Lynberg)
A paternidade e maternidade estão permanentemente submetidos à avaliação e análises, feitas por todos nós. Somos homens e mulheres que assumiram um compromisso denso com filhos e filhas. E vivemos tempos em que se torna difícil compreender as mudanças culturais que operam neste mundo de ligeiras transformações. Ser pai e ser mãe é mais do que um ofício; é assumir uma missão, criando condições de aconchego e de vôo, como fala Padre Zezinho. Somos pais e mães menos presentes na vida cotidiana de nossos filhos. Por isso mesmo, a convivência com eles pode e deve ser, por excelência, um convite e uma oportunidade para a humanização (nossa e deles).
O
ser humano não nasce lapidado, não nasce pronto. Faz-se no tempo, na
experiência e na vida concreta. Esta vida concreta é feita de oportunidades.
Umas nós mesmos as construímos, sobretudo em nossos espaços de convivência
familiar. Outras, o mundo as oferece, de forma permanente. E acontecem
longe do controle e da vontade dos pais e mães. Por isso mesmo, educar os
filhos e filhas não é uma exclusividade das famílias. A educação das crianças,
adolescentes e jovens deve ser também uma responsabilidade compartilhada por
todos nós, por toda comunidade.
Certas
coisas aprendemos a partir da experiência concreta. Quando éramos apenas
filhos, não possuíamos noção da idéia de “pertença” e proteção, tão intrínsecas
à vida dos verdadeiros pais e mães. Achávamos que éramos superprotegidos, que
nossos pais "desperdiçavam" tempo e cuidado para com a gente.
Finalmente, achávamos que o que nos faltava era a liberdade. Com a paternidade
e a maternidade passamos a compreender o valor dos “investimentos”
afetivos, culturais, emocionais e porque não econômicos que pais e mães fizeram
e fazem em função de seus filhos. Filhos não tem mesmo condições para
compreender estes valores, mas deveriam aceitar a idéia de que pais e
mães só querem proteger, porque ainda os consideram seres frágeis e suscetíveis
a muitos perigos que os rondam enquanto forem crianças, adolescentes ou jovens.
E que estes perigos são reais, e existem.
Por
sua vez, a sabedoria popular encarregou-se de nos ensinar que “filhos a gente
não cria para a gente. Filhos, a gente cria para o mundo”. Diz Padre Zezinho
que “não dá para ninar um filho a vida inteira. Um dia a aguiazinha fica madura
e precisa voar sozinha e fazer seu próprio ninho. Tem que haver mais do que
asas de mãe naquela vida. Existe vento forte lá fora e alguém tem que
empurrá-las para voarem sozinhas. Filho que não entende isso chega aos 32 anos
dependendo da mesada do pai. Pai que não entende isso vai amar errado. Há um
tempo para o aconchego e outro para o vôo para longe. Ou isso, ou não haverá
mais águias..”.
O
ambiente familiar é um espaço privilegiado de promoção de vida, dignidade e de
humanidade. Aqueles e aquelas que, convivendo, compõem um ambiente
de relações afetivas e próximas, podem construir a mais rica experiência
do amor. Mas há que se considerar ainda os filhos e filhas dos outros e outras.
Aqueles que não possuem um ambiente familiar que os promova e os proteja. De
quem a responsabilidade? Se filhos do mundo, também filhos nossos. São de nossa
responsabilidade também.
Rugas
no corpo são inevitáveis com o passar do tempo. Rugas na alma não colam
naqueles que são entusiastas da vida, do amor e do ambiente familiar. Nossas
famílias devem ser lugares de aconchego e de vôo. Aconchego e vôo são da
essência humana; constroem felicidade.
Nei Alberto Pies,
professor
e ativista de direitos humanos
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