Pra relaxar , vamos ler nessa postagem um conto de Nelin Vieira , afinal cidadania também é uma das vertentes desse blog, peço que façam comentários, sobre esse e outras postagem , sua visita é de suma importância fico feliz em ver inúmeros amigos, desconhecidos, de outros estados e até estrangeiros que visitam esse blog, que a priori não é meu, e sim de São Mateus, essa terra querida e sofrida. Vamos a leitura!
No interior, quando alguém passa um pano molhado no sapato, veste uma roupa nova, vai ao barbeiro para ajeitar a cabeleira, manda lavar o lenço, limpa a fivela do cinto com limão, ou então dá uma “caprichada” numa calça que faz tempo que não usa, se a pessoa não for participar de uma ocasião especial, como casamento, batizado, aniversário; dia de eleição, reunião de sindicato, posse de prefeito, ou viajar pra mais longe, é muito comum ouvir do vizinho, ou de um amigo, a seguinte pergunta:
- E aí, fulano, pra onde vai assim desse jeito, todo “empavezado” (arrumadinho), e mais cheiroso do que filho de barbeiro e penteadeira de rapariga. Vai pra festa, ou fazer exame de fezes?
Por falar nisso, tinha um conterrâneo nosso, que no início dos anos 70, o médico lhe pediu que fizesse um exame de fezes, e ele ao chegar em casa (mais preocupado com esse pedido, do que com a própria doença), chamou sua filha (a mais sabida), e a mandou imediatamente a Bacabal, para comprar um dicionário Aurélio, de preferência, da 1ª edição, que ele queria saber “tintim por tintim” o que diabo era esse negócio de “exame de fezes” que o doutor tinha lhe “receitado”.
Esse episódio “fezeano” sãomateuense, foi retratado pelo poeta pedreirense Neto Arrais, nosso amigo e genro do senhor Valderez do Gás Butano, no seu livro Canteiro de Urtigas (Sátiras), na página189:
Da usura surpreende a matemática,/ Embora tão burro não exista igual./ E quanto mais velho se torna o animal,/ Mais da burrice vai pegando prática. // Figura boba, um tanto asnática./ O pior aluno do extinto Mobral./ Quer agora estuprar a gramática,/ Trocando o certo, pelo irracional. // Urge-lhe meterem pelo ouvido,/ Palavras com o mesmo sentido,/ Como ocioso, ser igual a lerda. // Que estragos significa danos, / Que c., não passa de ânus, / E que feze, sempre foi merda!
Cidade pequena é muito diferente da capital. Lá o povo é uma irmandade só. Todo mundo conhece todo mundo (primo casa com prima, tio com sobrinha, vizinho com vizinha, comadre com compadre e o velhinho com a novinha). É muito diferente dos grandes centros, onde você mora um tempão ao lado do seu vizinho e, sequer, sabe seu nome e dificilmente se cumprimentam. Na minha terra, São Mateus do Maranhão, a 180 Km de São Luís, tem pessoas que conhecem tanto de sua vida, que até um botão da camisa que a gente troque, ao passar por você, ela termina descobrindo essa pequena alteração nos adereços de sua peça de roupa, e faz comentários como:
- Botão novo, hein seu Nelin! Bermuda nova, hein seu João! ...E bote curiosidade nisso!
Moro em São Luís há 23 anos, e todo mês (às vezes de 15 em 15 dias), viajo a São Mateus para visitar parentes, amigos e também colher matérias para o jornal O TAMBURI, que circula mensalmente naquele município, e numa dessas “diligências de 8º gráu”, como costumo denominar minhas viagens à terra onde nasci, a minha saudosa irmã Maria da Paz, que morava no Maiobão, pediu-me que levasse um dinheiro para a mãe de uma menina que lhe auxiliava nos serviços domésticos.
Ao chegar em São Mateus, na parte da tarde, do jeito que eu estava: de calça social, camisa de linho, sapato vulcabraz (brilhando), cinto de couro, pulseira de ouro, com uma “boroca” à tira-colo, daquelas de garimpeiro (bolsa de couro); montei numa bicicleta Monark, de cor azul, e antes de sair para os meus (contatos de 8º grau), a primeira providência que tomei, foi logo ir entregar a “encomenda” para a senhora Beralina de Sá Oliveira, que morava pertinho do bar de Quina Pra Lua, da dona Bem, na rua São Marcos. Chegando lá, como a dona Beralina não estava, quem veio me atender foi o seu esposo, o senhor Dionízio Alvarenga, mais conhecido como Dudu Caçador.
Em toda cidade do interior, é muito comum a gente chegar numa casa e encontrar portas e janelas abertas (principalmente as da frente) e, ao descer da minha bicicleta Monark, por uma questão de educação, bati palmas e mais palmas..., e alguns minutos depois, foi que o seu Dudu Caçador apareceu - vindo do fundo do quintal -, onde pude perceber que ele mancava da perna direita, tinha um olho mais baixo do que o outro (o esquerdo), apresentava sinais de cansaço, dificuldade de falar e também de ouvir. Mais tarde é que fiquei sabendo que ele havia sofrido um grave acidente de carro.
- Boa tarde, senhor Dudu!
- Boa tarde, meu doutor! (no interior, toda pessoa que anda bem vestida e montada numa bicicleta nova, é chamada de doutor).
- O senhor desculpe o atraso, é que eu estava botando milho para os meus pintos, ali no quintal e tinha um deles, o “adivinhão”, que atenta mais do que o Romildo da Dijé, quando está bêbado, que não queria deixar os outros chegarem perto da comida, e só agora, foi que eu consegui dar uma enganadinha nele.
- Que nada seu Dudu, não se preocupe! - A sua esposa está?
- Foi tomar banho, meu senhor. O doutor espere só um pouquinho que ela vem já.
Enquanto eu esperava a dona Beralina de Sá (que segundo seu Dudu, estava banhando), ele pediu que eu entrasse, sentasse numa cadeira de macarrão, depois indagou meu nome e, bastante curioso, me perguntou o motivo da visita à sua casa. Logo em seguida, trouxe um café numa xícara das grandes, (no interior, dificilmente o dono da casa pergunta se você aceita um cafezinho, ou um cafezão...), e, se a gente não quiser, para ele, é uma falta de consideração muito grande. É o fim da picada. Nem água mais nos oferece, e ainda espalha pra vizinhança que o sujeito é metido a besta.
Como percebi que era muito precipitado entregar “a encomenda” (o dinheiro) ao seu Dudu, que estava se recuperando de uma forte pancada na cabeça, resolvi esperar sua esposa “que estava tomando banho”, e nesse intervalo, conversa vai, conversa vem..., ele me perguntou o seguinte:
- Doutor, pelo que estou vendo, o senhor deva ser “retratista”, e dos bons, não é?
Respondi que não! Seu Dudu me pediu que eu esperasse só mais um pouquinho, que ele iria, rapidinho, avisar sua mulher (que estava tomando banho), que tinha um doutor, da capital, querendo falar com ela. Dentro de uns dez minutos, lá vem seu Dudu com outra xícara de café, e com a mesma conversa:
- Doutor, tome esse cafezinho aqui, que a mulher ta pra voltar do banho. Ela não demora!
Como já falei, não se pode recusar café na casa de pessoas simples para não ofendê-las. O papo continuava... e seu Dudu Caçador, curiosíssimo pra saber a minha profissão, arriscou mais uma pergunta:
- Doutor, o senhor é um moço muito educado, tem uma boa conversa, e andando assim numa bicicleta “novinha da silva”, ainda mais sendo Monark, o senhor só pode ser é “crediarista”. Acertei?
Falei que não! Na segunda xícara de café (com a dosagem maior que a primeira), eu poderia muito bem ter encerrado a conversa com seu Dudu e matar logo sua curiosidade. Mas como gosto muito de conversar com as pessoas - principalmente idosas -, resolvi estendê-la (estava bastante agradável), para ver até onde ele iria com o seu rosário de perguntas sobre a minha profissão.
Já passava das 3 horas da tarde, e começou a chover muito forte. Logo apareceu umas goteiras no local da minha cadeira de macarrão e, enquanto eu procurava me desviar dos pingos da chuva, seu Dudu, com o pretexto de apressar sua mulher que, segundo ele, estava tomando banho, isso há mais de trinta minutos, novamente, foi até à cozinha, e trouxe a terceira xícara de café (cheinha da silva), e tentando fazer com que eu esperasse mais um pouco, me deu uma notícia bastante animadora:
- Doutor, pelo pouco que eu pude ouvir, agora sim, a minha mulher terminou de banhar. Lhe afirmo isso (e sem medo de errar), é porque eu não ouvi mais o barulho da vasilha dentro do tanque (na verdade, quem estava banhando no tanque eram os seus patos e o pinto, o adivinhão). A Beralina, a minha esposa, não é de andar com banho assim demorado como esse de hoje. Mas como ela disse que à tardinha vai à reunião da igreja, eu até dou um desconto. Aguarde mais só um pouquinho, que ela vem já! E enquanto isso, doutor, vou ligeirinho na cozinha, buscar mais um cafezinho pra nós dois.
Continuamos a conversar sobre vários assuntos e tomar café (agora, para complicar, debaixo das goteiras que inundavam o chão batido, da sala da casa de seu Dudu), e depois de um bom tempo – e nada de dona Beralina sair do banheiro –, seu Dudu olhou pra mim e disse o seguinte:
- Ah, doutor, da cozinha pra cá, me deu uma cutucada no meu tino (juízo), e agora eu já sei realmente, qual é a sua profissão: - Se o senhor não é retratista; não é crediarista (bem que parece!), e falando pausadamente, arriscou mais um palpite: o senhor só deva ser... é cobrador... do Armazém Paraíba. Acertei na mosca ou não, meu doutor?
Respondi, novamente ao velho Dudu, que não! A minha sorte, é que a chuva passou, o café da garrafa acabou, e apareceu um vizinho do seu Dudu, o Zé do Canto, para tratar assunto de seu interesse. Como a dona Beralina, a sua esposa, realmente não estava em casa (coisa que eu já havia percebido, desde a primeira chícara de café), voltei no outro dia na parte da manhã para deixar o dinheiro, ou melhor, a “encomenda” que a sua filha “Fátima Revista”, havia mandado da capital.
Pena que ao chegar, não encontrei mais o seu Dudu Caçador. Ele havia saído no “cagar dos pintos” (bem cedinho), para Coroatá, com o seu vizinho Zé do Canto, para tratar da sua “aposentação”, ou então, tentar ficar “encostado” pelo INPS, uma vez que, depois do acidente de carro que sofrera, ficou “pertubado” da cabeça e com problemas nas oiças. Ainda bem que a pancada que levou, não “mexeu” na parte que toma café, e na fazedora de perguntas...
Nelin Vieira – filho de São Mateus, sindicalista, publicitário e jornalista – escreve na revista Almanaque JP Turismo.
No interior, quando alguém passa um pano molhado no sapato, veste uma roupa nova, vai ao barbeiro para ajeitar a cabeleira, manda lavar o lenço, limpa a fivela do cinto com limão, ou então dá uma “caprichada” numa calça que faz tempo que não usa, se a pessoa não for participar de uma ocasião especial, como casamento, batizado, aniversário; dia de eleição, reunião de sindicato, posse de prefeito, ou viajar pra mais longe, é muito comum ouvir do vizinho, ou de um amigo, a seguinte pergunta:
- E aí, fulano, pra onde vai assim desse jeito, todo “empavezado” (arrumadinho), e mais cheiroso do que filho de barbeiro e penteadeira de rapariga. Vai pra festa, ou fazer exame de fezes?
Por falar nisso, tinha um conterrâneo nosso, que no início dos anos 70, o médico lhe pediu que fizesse um exame de fezes, e ele ao chegar em casa (mais preocupado com esse pedido, do que com a própria doença), chamou sua filha (a mais sabida), e a mandou imediatamente a Bacabal, para comprar um dicionário Aurélio, de preferência, da 1ª edição, que ele queria saber “tintim por tintim” o que diabo era esse negócio de “exame de fezes” que o doutor tinha lhe “receitado”.
Esse episódio “fezeano” sãomateuense, foi retratado pelo poeta pedreirense Neto Arrais, nosso amigo e genro do senhor Valderez do Gás Butano, no seu livro Canteiro de Urtigas (Sátiras), na página189:
Da usura surpreende a matemática,/ Embora tão burro não exista igual./ E quanto mais velho se torna o animal,/ Mais da burrice vai pegando prática. // Figura boba, um tanto asnática./ O pior aluno do extinto Mobral./ Quer agora estuprar a gramática,/ Trocando o certo, pelo irracional. // Urge-lhe meterem pelo ouvido,/ Palavras com o mesmo sentido,/ Como ocioso, ser igual a lerda. // Que estragos significa danos, / Que c., não passa de ânus, / E que feze, sempre foi merda!
Cidade pequena é muito diferente da capital. Lá o povo é uma irmandade só. Todo mundo conhece todo mundo (primo casa com prima, tio com sobrinha, vizinho com vizinha, comadre com compadre e o velhinho com a novinha). É muito diferente dos grandes centros, onde você mora um tempão ao lado do seu vizinho e, sequer, sabe seu nome e dificilmente se cumprimentam. Na minha terra, São Mateus do Maranhão, a 180 Km de São Luís, tem pessoas que conhecem tanto de sua vida, que até um botão da camisa que a gente troque, ao passar por você, ela termina descobrindo essa pequena alteração nos adereços de sua peça de roupa, e faz comentários como:
- Botão novo, hein seu Nelin! Bermuda nova, hein seu João! ...E bote curiosidade nisso!
Moro em São Luís há 23 anos, e todo mês (às vezes de 15 em 15 dias), viajo a São Mateus para visitar parentes, amigos e também colher matérias para o jornal O TAMBURI, que circula mensalmente naquele município, e numa dessas “diligências de 8º gráu”, como costumo denominar minhas viagens à terra onde nasci, a minha saudosa irmã Maria da Paz, que morava no Maiobão, pediu-me que levasse um dinheiro para a mãe de uma menina que lhe auxiliava nos serviços domésticos.
Ao chegar em São Mateus, na parte da tarde, do jeito que eu estava: de calça social, camisa de linho, sapato vulcabraz (brilhando), cinto de couro, pulseira de ouro, com uma “boroca” à tira-colo, daquelas de garimpeiro (bolsa de couro); montei numa bicicleta Monark, de cor azul, e antes de sair para os meus (contatos de 8º grau), a primeira providência que tomei, foi logo ir entregar a “encomenda” para a senhora Beralina de Sá Oliveira, que morava pertinho do bar de Quina Pra Lua, da dona Bem, na rua São Marcos. Chegando lá, como a dona Beralina não estava, quem veio me atender foi o seu esposo, o senhor Dionízio Alvarenga, mais conhecido como Dudu Caçador.
Em toda cidade do interior, é muito comum a gente chegar numa casa e encontrar portas e janelas abertas (principalmente as da frente) e, ao descer da minha bicicleta Monark, por uma questão de educação, bati palmas e mais palmas..., e alguns minutos depois, foi que o seu Dudu Caçador apareceu - vindo do fundo do quintal -, onde pude perceber que ele mancava da perna direita, tinha um olho mais baixo do que o outro (o esquerdo), apresentava sinais de cansaço, dificuldade de falar e também de ouvir. Mais tarde é que fiquei sabendo que ele havia sofrido um grave acidente de carro.
- Boa tarde, senhor Dudu!
- Boa tarde, meu doutor! (no interior, toda pessoa que anda bem vestida e montada numa bicicleta nova, é chamada de doutor).
- O senhor desculpe o atraso, é que eu estava botando milho para os meus pintos, ali no quintal e tinha um deles, o “adivinhão”, que atenta mais do que o Romildo da Dijé, quando está bêbado, que não queria deixar os outros chegarem perto da comida, e só agora, foi que eu consegui dar uma enganadinha nele.
- Que nada seu Dudu, não se preocupe! - A sua esposa está?
- Foi tomar banho, meu senhor. O doutor espere só um pouquinho que ela vem já.
Enquanto eu esperava a dona Beralina de Sá (que segundo seu Dudu, estava banhando), ele pediu que eu entrasse, sentasse numa cadeira de macarrão, depois indagou meu nome e, bastante curioso, me perguntou o motivo da visita à sua casa. Logo em seguida, trouxe um café numa xícara das grandes, (no interior, dificilmente o dono da casa pergunta se você aceita um cafezinho, ou um cafezão...), e, se a gente não quiser, para ele, é uma falta de consideração muito grande. É o fim da picada. Nem água mais nos oferece, e ainda espalha pra vizinhança que o sujeito é metido a besta.
Como percebi que era muito precipitado entregar “a encomenda” (o dinheiro) ao seu Dudu, que estava se recuperando de uma forte pancada na cabeça, resolvi esperar sua esposa “que estava tomando banho”, e nesse intervalo, conversa vai, conversa vem..., ele me perguntou o seguinte:
- Doutor, pelo que estou vendo, o senhor deva ser “retratista”, e dos bons, não é?
Respondi que não! Seu Dudu me pediu que eu esperasse só mais um pouquinho, que ele iria, rapidinho, avisar sua mulher (que estava tomando banho), que tinha um doutor, da capital, querendo falar com ela. Dentro de uns dez minutos, lá vem seu Dudu com outra xícara de café, e com a mesma conversa:
- Doutor, tome esse cafezinho aqui, que a mulher ta pra voltar do banho. Ela não demora!
Como já falei, não se pode recusar café na casa de pessoas simples para não ofendê-las. O papo continuava... e seu Dudu Caçador, curiosíssimo pra saber a minha profissão, arriscou mais uma pergunta:
- Doutor, o senhor é um moço muito educado, tem uma boa conversa, e andando assim numa bicicleta “novinha da silva”, ainda mais sendo Monark, o senhor só pode ser é “crediarista”. Acertei?
Falei que não! Na segunda xícara de café (com a dosagem maior que a primeira), eu poderia muito bem ter encerrado a conversa com seu Dudu e matar logo sua curiosidade. Mas como gosto muito de conversar com as pessoas - principalmente idosas -, resolvi estendê-la (estava bastante agradável), para ver até onde ele iria com o seu rosário de perguntas sobre a minha profissão.
Já passava das 3 horas da tarde, e começou a chover muito forte. Logo apareceu umas goteiras no local da minha cadeira de macarrão e, enquanto eu procurava me desviar dos pingos da chuva, seu Dudu, com o pretexto de apressar sua mulher que, segundo ele, estava tomando banho, isso há mais de trinta minutos, novamente, foi até à cozinha, e trouxe a terceira xícara de café (cheinha da silva), e tentando fazer com que eu esperasse mais um pouco, me deu uma notícia bastante animadora:
- Doutor, pelo pouco que eu pude ouvir, agora sim, a minha mulher terminou de banhar. Lhe afirmo isso (e sem medo de errar), é porque eu não ouvi mais o barulho da vasilha dentro do tanque (na verdade, quem estava banhando no tanque eram os seus patos e o pinto, o adivinhão). A Beralina, a minha esposa, não é de andar com banho assim demorado como esse de hoje. Mas como ela disse que à tardinha vai à reunião da igreja, eu até dou um desconto. Aguarde mais só um pouquinho, que ela vem já! E enquanto isso, doutor, vou ligeirinho na cozinha, buscar mais um cafezinho pra nós dois.
Continuamos a conversar sobre vários assuntos e tomar café (agora, para complicar, debaixo das goteiras que inundavam o chão batido, da sala da casa de seu Dudu), e depois de um bom tempo – e nada de dona Beralina sair do banheiro –, seu Dudu olhou pra mim e disse o seguinte:
- Ah, doutor, da cozinha pra cá, me deu uma cutucada no meu tino (juízo), e agora eu já sei realmente, qual é a sua profissão: - Se o senhor não é retratista; não é crediarista (bem que parece!), e falando pausadamente, arriscou mais um palpite: o senhor só deva ser... é cobrador... do Armazém Paraíba. Acertei na mosca ou não, meu doutor?
Respondi, novamente ao velho Dudu, que não! A minha sorte, é que a chuva passou, o café da garrafa acabou, e apareceu um vizinho do seu Dudu, o Zé do Canto, para tratar assunto de seu interesse. Como a dona Beralina, a sua esposa, realmente não estava em casa (coisa que eu já havia percebido, desde a primeira chícara de café), voltei no outro dia na parte da manhã para deixar o dinheiro, ou melhor, a “encomenda” que a sua filha “Fátima Revista”, havia mandado da capital.
Pena que ao chegar, não encontrei mais o seu Dudu Caçador. Ele havia saído no “cagar dos pintos” (bem cedinho), para Coroatá, com o seu vizinho Zé do Canto, para tratar da sua “aposentação”, ou então, tentar ficar “encostado” pelo INPS, uma vez que, depois do acidente de carro que sofrera, ficou “pertubado” da cabeça e com problemas nas oiças. Ainda bem que a pancada que levou, não “mexeu” na parte que toma café, e na fazedora de perguntas...
Nelin Vieira – filho de São Mateus, sindicalista, publicitário e jornalista – escreve na revista Almanaque JP Turismo.
1 comentários:
Meu amigo Cleyton,
Muito obrigado pela iniciativa de está disponibizando em seu blog, os meus contos e histórias de São Mateus.
Em relação ao seu Valderez, trabalhei com ele (ele foi o meu primeiro patrão), de março de 1973 a junho de 1976. Vi sua empresa crescer...
Que Deus o receba de braços abertos em sua nova morada.
Nelin Vieira.
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