O povo maranhense diz: niguém calará nossa voz



- Estou hoje aqui para dizer o que estou sentindo. A dor que está no meu coração é tão forte, que tem hora que penso que não vou aguentar. Perdi meu filho, que tanto amava, porque não tive ajuda. Hoje quero denunciar, todo mundo dizia para ficar calada, que eu pobre não podia enfrentar essa gente grande. Mas hoje estou aqui, a dor que sinto é maior que o medo e a vontade de fazer justiça é mais forte. Eu quero justiça!

- Minha raiva é muita com tanto roubo. Esse bando de gente tem de ser presa, ir para a cadeia,  pois prejudicam a comunidade. A estrada que existe lá na minha comunidade, que está aí paga na prestação de contas como feita pelo prefeito, fomos nós que fizemos, a comunidade que fez, cada um trabalhando de forma voluntária.

Depoimentos como estes acima postos, o primeiro colhido em Belágua, o segundo em São Benedito do Rio Preto, com tanta carga de sentimento de revolta e indignação, marcaram no dia de hoje, dez de maio, o início das audiências públicas que serão feitas em 60 municípios maranhenses.

Idealizadas pelos Fóruns e Redes de Cidadania,  cujo objetivo é ouvir a população sobre os casos de violação de direitos humanos, a iniciativa pretende reunir o máximo de casos, com depoimentos e provas, uma espécie de Inquérito Popular, para encaminhá-los ao Ministério Público e aos demais órgãos do Estado, como Controladoria Geral da União e Polícia Federal, para que abram procedimentos de investigação.

Todas as audiências serão temáticas, escolhidas pelo núcleo local, para refletir sobre os problemas que mais afetam a população.

Coincidência ou não, mesmo os municípios sendo de diferentes regiões do Estado, a maioria dos núcleos municipais escolheram saúde e educação como os principais direitos da população que são violados em território maranhense cotidianamente.

Em Belágua reuniram-se mais de 130 pessoas, de diferentes povoados, de funcionários públicos a lavradores, todos dispostos a denunciar as injusticas praticadas na área da saúde pública, faltando foi tempo para ouvir tantas histórias que causaram revolta em todos os presentes. 

Em São Benedito do Rio Preto, o auditório do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais ficou pequeno, para caber tantas pessoas, contabilizando mais de 300 participantes,  populares de diversos povoados e dos bairros da sede, que estavam ansiosos para falar sobre os casos de corrupção na Administração Pública municipal.

No rosto de cada homem, de cada mulher, a nitidez do sofrimento, provocada pela violação do direito. O quanto a dor do abandono pelo poder público envelhece as pessoas, fere a dignidade, rouba o que pode melhorar a existência humana.

No entanto, nos dois municípios se observou que, passado o instante misto de curiosidade, perplexidade e assombro, pela discussão inusitada, para muitos pela primeira vez, não deu outra,  o povo se soltou e começou a reclamar, pelo fato das coisas demorarem tanto, dos órgãos do Estado não funcionarem, do próprio povo se acomodar, não lutar pelo seu direito.

No final, quando a coordenação do evento falou que aqueles depoimentos seriam encaminhados  aos órgãos do Estado, em forma de representação e que esta precisava ser assinada, todos levantaram as mãos, numa afirmação de que não fugirão à luta e cobrarão até o final a apuração de cada caso denunciado.

Povo maranhense é assim: primeiro desconfia, depois assunta, por fim fala.

Se der corda, começa logo a exigir.

E é isso que as audiências públicas querem despertar e afirmar como atitude de cidadania: o sentimento de exigir o direito, para podermos ficar de pé.

Foi esta lição que o povo maranhense mostrou hoje ser possível!

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